terça-feira, 10 de setembro de 2013

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O que de mim soubestes
foi somente a cobertura,
a túnica que reveste
a nossa humana ventura.

E talvez, além do véu
houvesse um azul tranquilo;
a vedar o límpido céu
só um sigilo.

Ou ao invés fosse fantástica
a mudança em minha vida,
o descortinar de incendida
plaga que não verei mais.

Restou assim esta capa
da minha real substância;
o fogo que não se apaga
pra mim se chamou: ignorância.

Se sombra avistardes, não será
uma sombra - eu hei de ser.
Pudesse arrancá-la de mim,
eu vos haveria de a oferecer.

Ossos de Sépia - Eugenio Montale

quinta-feira, 25 de julho de 2013

“Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância.Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo. Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo.” 

Vinícius de Moraes




sexta-feira, 5 de julho de 2013

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Feliz por terem me encomendado desenhos.




É bom quando gostam do que a gente gosta.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Findo


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Uma vez vi um filme, não me lembro qual, em que um sujeito declarava: “Se duas pessoas que um dia se amaram não puderem ser amigas, então o mundo é um lugar muito triste”. O mundo é um lugar triste, mas não porque ex-amantes não podem ser amigos: sim porque o passado não pode ser recuperado. Eis a verdade banal que descobrimos, frustrados, ao fim de cada encontro: toda memória é um luto pelo que vamos deixando para trás.
“Café?”. “Não, obrigada, preciso voltar pro trabalho”. “É, eu também tô meio com pressa”. Rachamos a conta, nos beijamos nas bochechas, damos um abracinho demorado e chocho, com a ternura triste dos amores findos e seguimos cada um para o seu lado.


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